A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
reunida em sua 50ª Assembleia Geral, em Aparecida-SP, saúda a população
brasileira, em sintonia com os importantes acontecimentos que marcam o
país neste ano, especialmente as eleições municipais no próximo dia 07
de outubro. Expressão de participação democrática, as eleições
motivam-nos a dizer uma palavra que ilumine e ajude nossas comunidades
eclesiais e todos os eleitores, chamados a exercerem um de seus mais
expressivos deveres de cidadão, que é o voto livre e consciente.
Inspira-nos a palavra do papa Bento XVI ao afirmar que a sociedade
justa, sonhada por todos, “deve ser realizada pela política” e que a
Igreja “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” (Deus
Caritas Est 28). Para o cristão, participar do processo
político-eleitoral, impulsionado pela fé, é tornar presente a ação do
Espírito, que aponta o caminho a partir dos sinais dos tempos e inspira
os que se comprometem com a construção da justiça e da paz.
As eleições municipais têm uma característica própria em relação às
demais por colocar em disputa os projetos que discutem sobre os
problemas mais próximos do povo: educação, saúde, segurança, trabalho,
transporte, moradia, ecologia, lazer. Trata-se de um processo eleitoral
com maior participação da população porque os candidatos são mais
visíveis no cotidiano da vida dos eleitores. Isso torna ainda mais
importante a missão de votar bem, ficando claro para o eleitor que seu
voto, embora seja gesto pessoal e intransferível, tem consequências para
a vida do povo e para o futuro do País. Os valores que definem o perfil
ideal dos candidatos devem ter histórico de coerência de vida e
discurso político referendados pela honestidade, competência,
transparência e vontade de servir ao bem comum. Os valores éticos devem
ser o farol a orientar os eleitores.
Ajudam-nos nesta tarefa instrumentos como as Leis de iniciativa
popular 9.840/1999, contra a corrupção eleitoral e a compra de votos, e
135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, cuja constitucionalidade
foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Aos eleitores cabe ficarem
de olhos abertos para a ficha dos candidatos e espera-se da sociedade a
mobilização, como já ocorre em vários lugares, explicitando a
necessidade de a “Ficha Limpa” ser aplicada também aos cargos
comissionados para maior consolidação da democracia. Desta forma, dá-se
importante passo para colocar fim à corrupção, que ainda envergonha o
nosso país.
Para o cristão, participar da vida política do município e do país é
viver o mandamento da caridade como real serviço aos irmãos, conforme
disse o Papa Paulo VI: “A política é uma maneira exigente de viver o
compromisso cristão ao serviço dos outros” (Octogesima Adveniens, 46).
Só assim, seremos “fermento que leveda toda a massa” (Gl 5,9).
Que Nossa Senhora Aparecida abençoe o povo brasileiro e ilumine
candidatos e eleitores no exigente caminho da verdadeira política.
Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Presidente da CNBB.